Em dezembro do ano passado, quando chegaram à
penitenciária José Maria Alkimin, em Ribeirão das Neves, na região
metropolitana de Belo Horizonte, Romeu Queiroz, ex-deputado federal, e
Rogério Tolentino, ex-advogado de Marcos Valério, temiam a reação dos
presos. Condenados a mais de seis anos cada um por participação no
mensalão – o maior caso de corrupção da história do Brasil –, eles
receavam que a repercussão do caso fizesse com que o clima com os outros
detentos fosse tenso.
Passados cinco meses, ambos se dizem “ambientados” na penitenciária,
aonde iam apenas para dormir, uma vez que estavam trabalhando na empresa
RQ Participações, de propriedade de Queiroz. Na última semana, o
presidente Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa,
cassou o direito de ambos de trabalhar fora do presídio.
Os dois contam que se transformaram em “consultores jurídicos” dentro
do presídio José Maria Alkimin. Não raramente, dizem, são abordados por
outros detentos em busca de auxílio especializado. Assim como Tolentino,
Queiroz é advogado.
“Vira e mexe, quase todos os dias, alguém chega para a gente e pede
ajuda. Sabem que somos presos no processo do mensalão, sabem que somos
advogados e, por isso, pedem auxílio. Muitas vezes, falam: ‘Ô doutor, eu
queria ver como fica a minha progressão de pena’. Às vezes, perguntam:
‘Se eu estudar, como fica a diminuição da minha pena?’. Eles são pessoas
que precisam de esclarecimento e acabaram encontrando em nós quase uma
consultoria jurídica”, contou Romeu Queiroz, quando ainda estava em seu
escritório, em Lourdes, na região Centro-Sul de Belo Horizonte.
“Na maior parte das vezes, eles nos fazem essas perguntas quando a
gente está na fila, na hora de sair do presídio para vir trabalhar, na
parte da manhã, ou quando eu chego, depois do expediente, à noite. Faço o
que posso para explicar aos nossos colegas quais são os direitos que
eles têm”, confidenciou Tolentino, que trabalhava durante o dia numa
sala ao lado de Queiroz, atuando oficialmente como auxiliar jurídico,
uma vez que não pode exercer a profissão de advogado enquanto estiver
cumprindo pena.
À época da entrevista, Queiroz respondia pela gerência de sua empresa.
“Criamos um convênio entre a minha empresa e a Secretaria de Estado de
Defesa Social (Seds) para que pudéssemos trabalhar”, conta o
ex-deputado, que, além de Tolentino, chegou a empregar um outro detento,
responsável por manutenção e serviços gerais no prédio onde funciona a
administração da RQ Participações, conglomerado de empresas dos setores
automotivo e agropecuário. “O Francisco é uma das boas pessoas que eu
conheci lá na José Maria Alkimin”, revela o ex-parlamentar.
QUALIFICAÇÃO. Queiroz e
Tolentino têm aproveitado o tempo livre dentro da cadeia, à noite e aos
fins de semana, para se dedicarem a cursos de qualificação profissional.
“Além de uma oportunidade para a gente se reciclar, é também uma chance
para reduzirmos um pouco a pena”, afirma Queiroz, mostrando os
certificados dos 13 cursos que já fez, a maioria no Sebrae. “Vale a pena
fazer esses cursos. Isso ajuda a matar o tempo livre quando a gente
está na carceragem”, explica Tolentino.
Simplicidade
Sem ostentação. Antes da revogação do direito de trabalhar
fora do presídio, Romeu Queiroz atuava em um escritório simples. Havia
duas mesas, poucos móveis e um laptop para o trabalho.
Quem é quem
Romeu Queiroz. Segundo os autos, o ex-deputado federal
pelo PTB recebeu R$ 350 mil do valerioduto em troca de apoio ao
governo. Foi absolvido pelos colegas e tentou se reeleger,
sem sucesso, em 2006. Em 2010, foi eleito deputado estadual. Em setembro
de 2012, foi condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, com
pena de seis anos e seis meses de prisão.
Rogério Tolentino. O advogado tentou destruir provas.
Braço direito de Marcos Valério e seu contato no Banco Rural, se
utilizava de seus contratos com empresas privadas para operacionalizar o
repasse de dinheiro do mensalão. Foi condenado por lavagem de dinheiro e
corrupção ativa a seis anos e dois meses de cadeia.
Além de trabalhar, ex-deputado começou a cursar teologia
Para ajudar ainda mais a passar o tempo, o estudo. Assim tem sido a
rotina do ex-deputado Romeu Queiroz. Além dos cursos de qualificação
profissional, ele também resolveu cursar teologia, em faculdade cujo
nome ele prefere não revelar.
Todos os dias, após o trabalho, Queiroz intensifica o estudo e segue
para as aulas no curso universitário. “Tem me feito muito bem poder
estudar mais a fundo as questões de Deus e a filosofia sob um novo
prisma, um novo olhar”, afirmou o ex-parlamentar.
Queiroz, que já havia dito à reportagem de O TEMPO em
janeiro que sentia “alívio” por, enfim, estar cumprindo sua pena,
reafirmou esse sentimento. “Estou aliviado. Foi um processo doloroso,
principalmente para a minha família”, frisou o ex-deputado.
Fonte: O Tempo