quarta-feira, 3 de setembro de 2014

22 denunciados por tráfico internacional

Denúncia do MPF inclui 13 residentes em JF; eles respondem por comércio e associação para financiamento ao tráfico
 
Por Daniela Arbex e Michele Meireles

Parte do grupo denunciado deu entrada na prisão em Contagem em junho
Parte do grupo denunciado deu entrada na prisão em Contagem em junho

O Ministério Público Federal (MPF) denunciou, ontem, 22 pessoas – cinco delas foragidas – por associação para o tráfico internacional de drogas adquiridas no Paraguai, Bolívia e Peru e também por associação para o financiamento ao tráfico. Destas, 13 tinham residência em Juiz de Fora, cidade sede do grupo que possuía ramificações em outros estados brasileiros. Parte dos denunciados, entre eles o empresário Aurélio Salgado e Saulo Marion, continua presa em Belo Horizonte desde o dia 10 de junho, quando a Polícia Federal deflagrou a Operação Athos, uma das maiores da história da corporação. Apesar de ser acusado de beneficiar o grupo, o juiz Amaury de Lima e Souza, que era titular da Vara de Execuções Criminais em Juiz de Fora, não está entre os 22. Ele já havia sido denunciado no final de julho.
De acordo com a denúncia de 389 páginas, a organização era composta por núcleos diferentes. Apesar disso, eles gravitavam em torno do núcleo distribuidor, com base operacional na cidade de Juiz de Fora e comando de Peterson Pereira Monteiro, o Zói. Traficante conhecido na região, Zói é apontado pela Polícia Federal como fornecedor de drogas em favelas do Rio, como as do Acari, Maré, Rocinha e Morro do Alemão. A droga era comprada na Bolívia e no Paraguai e enviada por terra para Juiz de Fora por meio de dois traficantes que operavam no Triângulo Mineiro, Mato Grosso do Sul e interior de São Paulo. Do município, as substâncias eram redistribuídas nos morros cariocas. O grupo comercializava cocaína e grandes quantidades de maconha. Além do núcleo distribuidor, havia outro considerado o braço armado da quadrilha, conforme a Tribuna revelou com exclusividade em matéria publicada no dia 26 de junho.
O Ministério Público Federal descreve o modo de atuação do núcleo financeiro, liderado, segundo a denúncia, por Aurélio David Salgado e Saulo Marion Silva Gomes, com o apoio operacional de Jéferson José Nazarias e Jean Jacques da Rocha Moreira, que eram utilizados como intermediários nas negociações e até laranjas. As investigações indicam que as empresas Fácil Bank Construções Ltda, XAZ Construções Ltda e XLA Comercial e Serviços Ltda, todas ligadas a Aurélio, financiavam o tráfico, por meio da venda de bens móveis e imóveis aos demais criminosos, apesar de as duas primeiras nunca terem operado nos endereços informados. Os bens ficavam registrados no nome do empresário juiz-forano ou de integrantes do patrimônio de uma de suas empresas, embora pertencessem de fato aos traficantes. O poderio econômico da organização também é destacado pela Polícia Federal. Cinco aeronaves, um jet-ski, quatro lanchas, 11 imóveis e 14 veículos, vários deles de luxo, foram apreendidos durante a operação que contou com mais de 250 agentes federais. Também foram identificados valores e ativos depositados em instituições bancárias em titularidade de 28 CPFs e quatro CNPJs.
Além de denunciar o grupo, a promotoria solicitou que a Justiça Federal mantenha as prisões preventivas dos acusados, como “única medida hábil à garantia da ordem pública e da aplicação da lei penal”, para evitar não apenas “a fuga dos denunciados, mas também a destruição de provas e coação de testemunhas”. A manutenção do bloqueio dos bens é outro pedido feito pelo Ministério Público Federal, visando a garantir a  “descapitalização do grupo criminoso”, para evitar que, mesmo eventualmente condenados e presos, os denunciados voltem a comandar atividades criminosas, aproveitando-se de seu poderio econômico. O patrimônio poderá vir a ser incorporado em favor da União, conforme prevê a Lei 11.343/2006.

Juiz deve continuar preso por tempo indeterminado

O juiz Amaury de Lima e Souza, acusado de vender sentenças para beneficiar traficantes, já havia sido denunciado pelo Ministério Público pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e posse irregular de arma de fogo, acessório e petrechos de uso permitido e restrito, além de colaboração como informante de organização criminosa atuante no tráfico de drogas. Segundo a assessoria do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), o processo contra o magistrado e outros acusados está sendo conduzido pela desembargadora Márcia Milanez. Amaury, que teve a prisão temporária convertida em preventiva, continua preso no 39º Batalhão da Polícia Militar de Contagem, sendo que não há prazo determinado para sua soltura.
Ele é suspeito de transferir para Juiz de Fora criminosos como Álvaro Daniel, considerado “um dos mais expressivos traficantes com atuação no território nacional, com capacidade para internalizar grandes carregamentos de cocaína a partir da Bolívia e do Paraguai”, segundo denúncia do Ministério Público Federal. O traficante foi flagrado pela Polícia Federal em hotel da cidade, onde encontrou-se com a advogada ligada ao magistrado. O próprio Amaury foi visto no hotel, no mesmo dia. Após transferir-se para a cidade, em 23 de março deste ano, Álvaro Daniel foi contemplado com o benefício de prisão domiciliar, fugindo logo depois.
Outra transferência sob investigação é a de José Severino da Silva, o Cabecinha, investigado inclusive pela agência americana antidrogas, Drug Enforcement Administration (DEA), a qual o considerou de “alta periculosidade”. Cabecinha teria participado do assalto milionário ao Banco Central em 2005. Ele e Álvaro Daniel são apontados como fornecedores de droga para a cidade.

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