Entre as grades. Segundo sindicato, agentes estão em uma disputa interna para evitar a substituição imediata por servidores efetivos. |
Servidores denunciam clima ruim entre contratados que podem perder emprego a qualquer momento
bernardo miranda
Um conflito entre agentes penitenciários pode estar comprometendo o
funcionamento de presídios de todo o Estado de Minas Gerais. Servidores
denunciam que têm trabalhado sob uma pressão que vai muito além do fato
de lidar diariamente com criminosos de alta periculosidade. A falta de
estabilidade na carreira, com ameaças de demissão, tem transformado o
trabalho nas penitenciárias mineiras em um campo de disputa em que
colegas concorrem para não estar na próxima lista de dispensados. São
várias as denúncias de trabalhadores com problemas psicológicos devido
ao estresse a que são submetidos no trabalho. No caso mais extremo, um
agente se suicidou em Muriaé, na Zona da Mata.
Com 53 mil detentos, o sistema prisional de Minas conta com 15,5 mil
agentes, 85% deles não efetivados, segundo o Sindicato dos Agentes de
Segurança Penitenciária do Estado (Sindasp-MG). Esses funcionários são
contratados, seguem as regras de um trabalhador comum, mas não contam
com os benefícios dos servidores efetivos da área. A partir de 2012, o
Estado começou a fazer concursos para substituí-los, e hoje, a cada
agente efetivado, um contratado é demitido. Segundo os servidores, não
há um critério objetivo para o desligamento. Os nomes dos demitidos são
definidos pela coordenação da unidade, portanto, qualquer contratado
pode ser o próximo da lista.
“Essa situação deixou o clima insustentável. A todo momento um colega
seu quer te dar uma rasteira. Não fazemos o nosso trabalho da melhor
maneira. Com a dispensa iminente, os mais ‘fracos’ ficam mais
suscetíveis a ser corrompidos pelos bandidos”, contou um agente
penitenciário, que pediu para não ser identificado.
Outro agente reclama que os dispensados voltam para o mercado de
trabalho sem nenhuma qualificação. “Você dedica seis anos de sua vida a
um serviço que poucas pessoas querem fazer. Depois você é demitido, e
qual é a experiência que você tem? Ter sido agente penitenciário não
vale nada no meu currículo. E mesmo fora do sistema, você continua a
sofrer ameaças de ex-detentos”, reclama.
A Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) afirma que todos os
agentes contratados pela Subsecretaria de Administração Prisional
(Suapi) são empossados no regime temporário e têm informações acerca do
contrato.
Efetivo
Admitido. A
Secretaria de Estado de Defesa Social afirma que são vários os casos de
agentes penitenciários que eram contratados e foram admitidos nos
concursos realizados, sendo incorporados ao quadro de efetivos.
Frase
“O aumento da violência reflete diretamente na nossa profissão. Com
alta no número de presos, o trabalho é maior. Nesse clima estressante
gerado pelo medo da demissão, é impossível prestar um bom serviço. Somos
cobrados por todos os lados. Pela sociedade e pelos presos que estão
certos em cobrar os seus direitos. É urgente a melhoria de nossas
condições de trabalho.”
Adeilton Rocha - Presidente do Sindicato dos Agentes de Segurança Penitenciária do Estado (Sindasp-MG)
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