No lugar de bombas de efeito moral e balas de borracha, golpes de
caratê, taekwondo e outras artes marciais. O grupo Tropa de Braço é a
aposta do Batalhão de Choque da Polícia Militar para conter ações de
baderneiros durante manifestações em Belo Horizonte.
A tropa, criada no fim do ano passado, já atuou em eventos esportivos
e, agora, três meses depois, entrará em cena pela primeira vez em um
grande protesto. No domingo, são esperadas cerca de 20 mil pessoas na
Praça da Liberdade, em um ato contra o governo federal. nesta
sexta-feira (13), outra manifestação, mas de apoio à Petrobras e à
presidente Dilma Rousseff, também terá o monitoramento dos “ninjas de
farda”.
O grupo foi criado pela PM a partir da experiência adquirida com as
manifestações nas copas do Mundo e das Confederações. Muitos membros da
tropa especializada já têm know how para agir em casos extremos, tendo
atuado, inclusive, contra black blocs.
“Monitoramos o comportamento dos vândalos e constatamos que muitos
utilizam a luta como forma de revide ao policial. Por isso, a gente
criou essa tropa, preparada para imobilizar essas pessoas”, explica o
comandante do Batalhão de Choque, Gianfranco Caiafa.
O objetivo é deter arruaceiros sem o uso de armamento, em casos em que a
defesa pessoal possa ser empenhada sem causar dano ou lesão a nenhuma
das partes.
Isso não significa que as forças policiais estarão sem equipamento
pesado. Os “lutadores” estarão infiltrados entre os militares armados e
receberão escolta quando tiverem que partir para a briga. Na região
metropolitana, a corporação informou ter 15 mil homens prontos para
entrar em ação a qualquer momento.
A Tropa de Braço tem 50 militares, todos faixa preta em alguma arte
marcial. Eles têm treinamento diário e passam por cursos de
aperfeiçoamento de técnicas de abordagem. Para garantir agilidade, eles
não carregam alguns equipamentos que atrapalham os movimentos, como
cinto e escudo. Porém, ficam de capacete e colete à prova de balas.
KIT PROTESTO
Além da Tropa de Braço, uma maleta de operações do Choque também é um
novo recurso empenhado em situações críticas. Nela, os militares contam
com granadas de efeito moral, armas taser e até extintores de incêndio. O
equipamento reforça os demais levados individualmente.
O esquema de proteção contra pedras e coquetel molotov continua o
mesmo: escudo de blindagem, colete, taser, armamento de bala de
borracha, cassetete, bombas de efeito moral e spray de pimenta. “São
equipamentos de resposta rápida e que inibem a atuação dos criminosos”,
destaca o capitão Alex Silva, um dos responsáveis pelo pelotão do
Choque.
EQUIPAMENTO PESADO
O Batalhão de Choque vai apresentar outro reforço na atuação em grandes
protestos. Um blindado capaz de lançar fortes jatos de água para
dispersar multidões. O veículo, que pode transportar 30 PMs também é
equipado com um sistema de videomonitoramento que identifica e auxilia
em prisões.
“São equipamentos importantes que garantem a segurança de todos. O que
pedimos é uma manifestação pacífica e ordeira para não precisarmos usar
nenhum equipamento”, reforça Caiafa.
Novo comportamento de manifestantes motiva mudança
A utilização das artes marciais no Batalhão de Choque da Polícia
Militar faz parte de uma mudança no perfil de atuação do grupamento. Nos
últimos 15 anos, o comportamento das pessoas em manifestações era
considerado mais ordeiro. “Hoje, temos o problema dos criminosos que se
infiltram nas passeatas com objetivo único de causar baderna e machucar
quem não quer conflito”, salienta o comandante do Batalhão de Choque,
Gianfranco Caiafa.
A identificação dos vândalos por meio de filmagens e de banco de dados
também ajuda na montagem do perfil dos baderneiros. Durante a Copa do
Mundo, foram identificadas aproximadamente 80 pessoas, envolvidas em
delitos como quebradeira de estabelecimentos comerciais e dano ao
patrimônio público.
Na época, os vídeos e os dados foram repassados para Polícia Civil e
para o Ministério Público, que deram andamento às investigações. “Esse
trabalho ajuda na retirada dessas pessoas das ruas”, afirma o
comandante.
Ainda de acordo com o ele, novos equipamentos também possibilitam o
sucesso nas intervenções e o controle da ordem. “O blindado, por
exemplo, é um instrumento completo, que, além de ultrapassar obstáculos,
permite localizar e neutralizar os desordeiros sem efetuarmos nenhum
disparo”.
Em ação também nos jogos de futebol da Olimpíada
O próximo grande evento que contará com os militares do Batalhão de
Choque e da Tropa do Braço será a Olimpíada de 2016. Belo Horizonte
sediará jogos de futebol do evento.
Segundo o comando da PM, ajustes serão feitos para que não haja
baderna. “Temos a lição de que nenhuma manifestação é igual a outra.
Cada uma precisa de um planejamento específico. Sentimos que, como as
manifestações de junho eram completamente diferentes, ficamos sem
direcionamento. É isso que vamos fazer, mas sempre priorizando o
diálogo”.
Especialista em segurança pública, Frederico Marinho afirma que mais
importante do que mudar estratégias de atuação é garantir a segurança
dos manifestantes.
Além disso, continua, é preciso identificar e prender os vândalos,
levando-os à delegacia. “A iniciativa da PM em adotar táticas menos
violentas é válida, mas é importante corrigir erros dos últimos
protestos”, disse Marinho, pesquisador do Centro de Estudos de
Criminalidade e Segurança Pública (Crisp).
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