Por Vanessa Ramos, da CUT-SP
Superlotação das cadeias, trabalho precário e má gestão de recursos públicos são críticas recorrentes ao governo de São Paulo (PSDB). Mas nada se equipara ao medo e à insegurança frente às últimas mortes de servidores do sistema penitenciário paulista.
De março a novembro foram mortos sete
trabalhadores entre Agentes de Segurança Penitenciária (ASPs) e Agentes
de Escolta e Vigilância Penitenciária (AEVPs). Os assassinatos ocorreram
no litoral, região metropolitana de São Paulo e interior – Agnaldo
Cardoso de Oliveira, Paulo Alexandre Ribeiro Rosa, Charles Demitre
Teixeira, Agnaldo Barbosa Lima, Cleoni Geraldo Lima, Marcos Antônio
Azenh e Jiorlando Santos de Oliveira entraram para a lista de execuções,
investigadas agora pela polícia civil.
O presidente do Sindicato dos Funcionários do
Sistema Prisional do Estado de São Paulo (Sifuspesp), João Rinaldo
Machado, refuta a hipótese de assalto. “A polícia precisa investigar a
fundo as execuções. O governo de São Paulo é responsável também por não
promover ações anteriores”, pontua.
Para o diretor de Formação do Sifuspesp,
Fábio Cesar Ferreira, o Jabá, apesar de os trabalhadores ingressarem no
sistema sabendo do risco à profissão, a indignação cresce a cada nova
execução. “Creio que o crime tenta nos intimidar, desmobilizar, assustar
a categoria, visto que o governo de São Paulo não se manifesta sobre
nenhuma morte, tantos a dos trabalhadores do sistema prisional quanto os
da segurança pública em geral”, critica.
Jabá destaca que há uma tentativa de
desconfigurar os assassinatos em série. “Tudo isso é para não parecer
execução porque tanto o crime como o governo teme a nossa mobilização,
pois literalmente temos as chaves da unidade em nossas mãos”, destaca.
De acordo com a Secretaria de Administração
Penitenciária de São Paulo (SAP) trabalham 35.803 funcionários. Os
agentes de segurança penitenciária somam quase 24 mil trabalhadores
(as). Nas 160 unidades prisionais há um déficit de 87.777 de vagas nas
cadeias.
A agente penitenciária, Carol Cardoso, relata
que os servidores têm se revoltado com a situação. “Estamos sendo
caçados e executados pelo crime organizado. A diferença entre agora e
2006 [quando o estado de São Paulo foi tomado por facções] é que estão
matando aos poucos.”
Pela primeira vez, o Diário Oficial do estado
anunciou, em 13 de novembro, que a Secretaria de Segurança Pública de
São Paulo (SSP-SP) pagará até R$ 120 mil de recompensa por denúncias que
levem às prisões dos assassinos.
Em 14 de novembro, dirigentes sindicais se
reuniram com o secretário da SAP, Lourival Gomes. Entre os temas
tratados estava o dos assassinatos. (Clique aqui para saber mais)
A reportagem da CUT São Paulo entrou em
contato com a SSP-SP para saber sobre o andamento das investigações, mas
até o fechamento da matéria a Pasta não havia respondido.
Carol reconhece a medida, mas considera a
ação tardia. “Não é um assunto que gera grande repercussão com a
população em geral, o que faz com o que o governo não tome atitudes
prévias. Não deveria esperar que as mortes acontecessem em 2014. Há anos
os agentes têm sido mortos”, explica.
O diretor de Comunicação do Sifuspesp,
Adriano Rodrigues dos Santos, destaca que o governo estadual criou um
muro quase intransponível. “Falta transparência e o desconhecimento da
população sobre isso se deve também porque a grande mídia não descreve
os fatos como deveria”, resume.
Péssimas Condições
Luiz da Silva Filho, o Danone, diretor de Saúde do Sifuspesp, avalia
que o governo estadual é incompetente na gestão pública. “Nos sentimos
desrespeitados porque além da insegurança, ainda convivemos com péssimas
condições de trabalho nos presídios. Cada dia mais morrem funcionários
porque adoecem ou são assassinados”.Jabá explica que a superlotação é um dos principais problemas enfrentados no cotidiano. “Não existem mais vagas no sistema, os presos estão amontoados nas celas, o que dificulta até mesmo a conferência, atendimentos jurídicos e médicos, a segurança e a disciplina interna”.
Para o secretário Geral do Sifuspesp, João Alfredo Oliveira, a categoria está bastante assustada. “Aumenta a cada dia a dificuldade de ampliar o quadro de funcionários porque são muitas as ameaças e os riscos da profissão”, conclui.
Foto: reprodução/Youtube
Fonte:http://spressosp.com.br/2014/11/30/medo-e-revolta-tomam-servidores-sistema-prisional-de-sao-paulo/