quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Cidade tem uma morte violenta a cada dois dias

Último crime foi registrado nesta quarta-feira (20), quando corpo de rapaz de classe média alta foi encontrado com tiro em estrada do Náutico; polícia apura se foi homicídio ou latrocínio

Por Sandra Zanella e Marcos Araújo (colaborou Michele Meireles)
Corpo de Carlos Alberto, 29, foi encontrado nesta quarta
Mais dois homicídios foram registrados em Juiz de Fora em um intervalo de menos de dez horas, elevando para 25 o número de mortes violentas apenas nos primeiros 50 dias do ano na cidade. A quantidade de óbitos, com média de um a cada dois dias, revela a escalada da violência e já representa um quarto de todos os assassinatos de 2012, quando 99 pessoas perderam a vida por ações criminosas. Uma das mortes aconteceu no Náutico, na Zona Norte, e a outra na Vila Olavo Costa, na região Sudeste.
O último caso foi registrado na manhã de quarta, quando o corpo de Carlos Alberto Pacheco Videira Filho, 29 anos, foi encontrado com um tiro no lado esquerdo das costas em uma via vicinal na área rural a poucos metros da Estrada Elias José Mockdeci, no Bairro Náutico. Um projétil de calibre 38 foi apreendido no local. A 3ª Delegacia de Polícia Civil instaurou inquérito para apurar o assassinato e trabalha com três linhas investigavas: a de que o rapaz tenha sido vítima de um homicídio simples, de latrocínio, que é o roubo seguido de morte, uma vez que seu veículo, um Golf de cor preta, está desaparecido, e, por último, queima de arquivo em função de alguma desavença passada. A morte do rapaz, de classe média alta, morador do Centro, movimentou a delegacia. Na tarde de quarta, quatro pessoas que tinham ligação com Carlos foram ouvidas pelo titular da 3ª Delegacia, o delegado Rodolfo Rolli.
Segundo o delegado, a vítima frequentemente realizava viagens para Cabo Frio (RJ). "Todas essas informações serão checadas a fim de traçarmos o que de fato aconteceu, pois tudo leva a crer que a vítima tenha sido executada, pois seu corpo foi localizado como se estivesse de joelhos e com braços cruzados na altura do peito. Ele levou um tiro que perfurou o pulmão esquerdo e atingiu o coração", ressaltou Rolli, acrescentando que as circunstâncias podem indicar que havia algum tipo de envolvimento entre vítima e autor do disparo. A hipótese é de que Carlos tenha sido levado para o local onde foi morto, um lugar considerado ermo para a realização do crime.
Um rapaz, que teria sido a última pessoa a estar com a vítima e foi um dos ouvidos na delegacia, teria contado que esteve com a vítima, por volta da meia-noite de quata. Conforme esta testemunha, Carlos Alberto estacionou seu veículo na rua do seu prédio e estava sozinho. Eles teriam conversado por cerca de dez minutos. Carlos teria contado que fizera um lanche na região do Bairro São Mateus e iria direto para casa. O corpo da vítima foi avistado por pessoas que passavam pela estrada vicinal. "Por volta das 6h, recebemos ligação de uma moradora falando que tinha visto um indivíduo caído ao solo, possivelmente morto. Comparecemos com duas viaturas e vimos sinais de violência no corpo, pois a camisa estava suja de sangue", disse o coordenador de policiamento do 27º Batalhão da PM, tenente Vinícius Araújo Barroso, que trabalhou na ocorrência.

População assustada
Uma manicure de 29 anos foi quem acionou a PM. "Meu marido saiu de casa por volta das 4h30 e, no percurso para pegar o ônibus às 5h30, viu o homem caído. Ainda olhou com a lanterna para ver se conhecia. Quando fiquei sabendo, liguei para a polícia." Nascida na região, a moradora disse ter sido surpreendida com o assassinato na área em que reside. "Ficamos assustados, porque a gente achava que aqui era um lugar tranquilo. Mas a criminalidade chegou até nesses locais. Parece que estão vindo aqui fazer maldade."
O sepultamento de Carlos Alberto será às 10h desta quinta-feira (21), no Parque da Saudade.


Jovem morto com cinco tiros

Além do assassinato no Náutico, um jovem de 22 anos foi morto a tiros na Vila Olavo Costa, Zona Sudeste, na noite de terça-feira. Conforme o boletim de ocorrência da Polícia Militar, por volta das 20h40, Edmar Barbosa Dias foi alvejado por cinco projéteis na Rua Padre Aloísio Jorgler, a poucos metros de onde morava. O rapaz chegou a ser socorrido e foi levado para o Hospital de Pronto Socorro (HPS), mas não resistiu às duas perfurações na cabeça, duas no tórax e uma na mão. O corpo foi encaminhado para o IML.
Segundo a PM, o suspeito de ter cometido o crime é um adolescente, 17, mas ele não foi encontrado durante rastreamento. A suspeita é de que o crime tenha relação com algum desentendimento entre os envolvidos, que já teriam sido vistos juntos. A 6ª Delegacia de Polícia Civil investiga o caso.

Aumento de casos
No ano passado, sete mortes violentas haviam ocorrido nos dois primeiros meses, número bem abaixo do atual, mas o total de crimes fatais já havia sido quase o dobro que em 2011, quando os homicídios chegaram a 52 no município em todo o ano.
Para o delegado titular da 3ª Delegacia de Polícia Civil, Rodolfo Rolli, o aumento dos crimes de homicídio em Juiz de Fora está ligado ao tráfico de drogas com a participação de adolescentes e jovens. Segundo ele, as investigações já mostram que houve uma mudança na maneira de agir dos traficantes. "Se antes aliciavam os mais novos para a entrega de drogas, agora estão utilizando-os para execução de pessoas. Estes crimes estão acontecendo em dupla e com o uso de motocicletas. Quem vai no carona é o responsável por atirar contra a vítima." Dos sete assassinatos apurados pela 3ª DPC de 1º de janeiro a 20 de fevereiro, seis têm ligação com tráfico de entorpecentes, sendo quatro com o envolvimento de menores de idade. "Os traficantes detêm as armas que estão sendo passadas para esses garotos, para acerto de contas, principalmente contra usuários que deixam de pagar pela droga. Além disso, depois do delito, essas armas voltam para a mãos de seus donos que as deixam sob a responsabilidade de "guarda-roupas", na maioria das vezes, mulheres que não têm ligação direta com o esquema de venda de entorpecente. Isso dificulta o trabalho de retirada desses artefatos de circulação, pois, em cumprimento de mandado de busca e apreensão, as armas não são localizadas nas casas dos traficantes."
No último dia 15, um jovem de 21 anos foi morto na porta de casa, no Nova Era, Zona Norte, com três tiros na altura do peito. Segundo Rolli, a vítima teria roubado certa quantidade de droga do suspeito de cometer o crime. Na tentativa de recuperar o material subtraído, o homem teria disparado contra o jovem. O crime ainda continua sob investigação. A Polícia Civil admite que há um aumento expressivo nos crimes de homicídio, que estão relacionados, na maioria das vezes, com o tráfico de drogas e as brigas de gangues. Por meio de sua assessoria, a instituição ponderou que, apesar das ações desenvolvidas para frear o crescimento nos casos, o homicídio é um crime "complexo e difícil de ser previsto". A Polícia Civil informou ainda que um mapeamento feito no ano passado apontou que as regiões com maior incidência do delito são a Norte, Leste e Sudeste, e que estes locais irão receber mais delegados e escrivães.
A participação de adolescentes nos esquemas de venda de entorpecente foi evidente em ocorrência registrada pela Polícia Militar, na tarde desta quarta. Um garoto de 16 anos foi aprendido, na Cidade do Sol, Zona Norte, com 48 buchas de maconha. Ele estava próximo a uma escola quando foi abordado pelos policiais. Conforme o cabo da 173ª Companhia da PM, Luiz Filho, o adolescente contou que o material seria de um traficante que atua naquela região e que ele vendia cada unidade por R$ 5. Parte do lucro seria destinada para ele. O garoto foi encaminhado para prestar esclarecimentos na delegacia.

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