segunda-feira, 21 de setembro de 2015

‘Qualquer pessoa pode ter depressão’

Psiquiatra alerta sobre os efeitos da doença, que, segundo a OMS, será a mais comum do mundo entre 2020 e 2030



 
 Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram que, entre 2020 e 2030, a depressão será a doença mais comum do mundo. Atualmente, ela afeta mais de 350 milhões de pessoas. Nesse cenário, o psiquiatra Renato Lobo ressalta que engana-se quem pensa que a doença só afeta quem passou por situações traumáticas ou com história prévia de doença depressiva. “Ela pode acometer qualquer um, em qualquer fase da vida”, alerta.

 Segundo o especialista, a resistência do paciente em aceitar que está com depressão é um grande complicador para o tratamento. Ele pondera que, ao buscar fuga no trabalho, na medicação ou até nas drogas, o sujeito pode estar se submetendo a um quadro de paralisação funcional. “Geralmente, as pessoas negam que estejam impotentes ou enfraquecidas diante da vida. Elas usam todos os recursos próprios para superar os desafios, e essa negação só agrava o problema. É preciso tirar da cabeça esse preconceito. Vale destacar que a doença é diferente de tristeza, que pode ser causada por um abalo pontual e é temporária”, ressalta.

 Para Lobo, usar o trabalho como válvula de escape é um fator bastante prejudicial. “Muitos buscam suprir os seus vazios existenciais e suas carências, fazendo do seu trabalho o grande companheiro. Mas é uma coisa perigosa: porque o trabalho é uma exigência sem fim. Ficam o tempo inteiro tentando correr atrás daquele buraco e nunca conseguem tapá-lo. Isso pode levar à exaustão e, sobretudo, à frustração”, observa.
 
 Outro fator que está ligado ao trabalho decorre da exigência por funcionalidade e desempenho. “A cobrança de metas, muito comum em determinados perfis de empresa, vai levando o sujeito a desenvolver quadros de ansiedade, muitas vezes crônica. Quando essa tristeza se prolonga e se torna uma ansiedade muito profunda, se enraíza e passa a ser classificada como um quadro depressivo”.

 O depoimento de uma contadora de 53 anos, que preferiu ter a identidade preservada, revela esta realidade. “Em 2011, eu comecei a ter aborrecimentos com colegas, sofrer assédio moral por conta da minha idade, e isso começou a mexer com meu lado emocional. No início, levava na brincadeira, mas depois começou a me incomodar. Foi se tornando constante, até que veio o medo de trabalhar. Sentia uma ansiedade muito grande no ônibus, quando ia para trabalho, até o momento em que eu ficava angustiada por sair de casa e chorava muito.” Após perder a filha em um acidente automobilístico, em 2009, ela acreditou ter superado o luto ao se dedicar intensamente ao trabalho. Com o tempo, ela relata que a doença começou a demonstrar claros sinais de que era preciso procurar ajuda médica. “Fiquei internada por 30 dias em 2012, mas, antes, resisti em procurar um especialista, com receito de que a medicação me deixasse dopada ou ainda tivesse que me submeter a um longo período de internação”. Atualmente, ela continua o tratamento psicoterápico.

 A falta de apoio familiar, diz Lobo, também pode contribuir para piorar a situação. “É comum as pessoas dizerem que estão mal, e o marido ou esposa não acreditarem. No caso das mulheres, até pela carga de preconceito social, elas têm uma cobrança para serem funcionais, eficientes, ‘tarefeiras’ na vida. É preciso ter solidariedade, carinho, compreensão para que o paciente consiga atravessar aquele momento, que é muito sofrido. Só quem viveu a depressão sabe da intensidade, da angústia e da dimensão que a doença representa.”

Fonte:  Tribuna

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