Estelionatos contra idosos crescem 61%

Relatório mostra ainda que Centro, São Mateus e Santa Luzia concentram maior número de vítimas de vários crimes nesta faixa

Por Fernanda Sanglard

Campanha contra violência foi lançada nesta 2ª

O estelionato é o tipo de crime praticado contra idosos que mais cresceu na cidade, com aumento de 61% na comparação entre 2011 e 2012, conforme dados apresentados pela Polícia Civil na tarde desta segunda-feira (10). O levantamento foi divulgado na abertura da "Campanha de enfrentamento da violência contra os idosos", lançada pela Comissão Permanente de Defesa dos Direitos dos Idosos da Câmara Municipal, em parceria com a Prefeitura, o Hospital Universitário (HU/UFJF), o Conselho Municipal do Idoso, a Amac e o Sesc. O relatório também identificou os principais crimes que atingem as pessoas com idade acima dos 60 anos - que são furto, ameaça, estelionato, lesão corporal e roubo - e os bairros onde a maioria das ocorrências foi registrada (ver quadro). Conforme o levantamento, Centro, São Mateus e Santa Luzia são os bairros que concentram o maior número de vítimas nessa faixa etária, somando os registros dos primeiros quadrimestres de 2011, 2012 e 2013. Se for levando em conta o aumento dos casos de janeiro a dezembro de 2011 e 2012, Centro e São Mateus permanecem nas primeiras posições, mas Santa Helena assume a terceira colocação.
O número de vítimas por região reflete também as características demográficas dessas áreas, já que os bairros indicados são também aqueles que concentram maior população idosa. De acordo com o Censo Demográfico 2010, entre as áreas que apresentam, proporcionalmente, maior número de habitantes com 65 anos ou mais, estão o Centro, que ocupa a primeira posição (com 20% dos moradores nessa faixa etária), o Santa Helena fica com a segunda (16,8%), o São Mateus na 13ª (14%) e o Santa Luzia ocupa a 35ª (10%). Apesar de serem considerados idosos aqueles que têm 60 anos ou mais, o corte etário disponibilizado pelas tabelas do Censo que oferecem o detalhamento por bairros reúne os habitantes a partir dos 65 anos.
Os dados da Polícia Civil também trazem surpresas e colocam o Bairro Jardim Natal, na Zona Norte, como um dos que tiveram maior incremento no número de vítimas idosas. Enquanto em 2011 houve registro de oito casos no bairro, em 2012 foram 32. Pelo Censo 2010, o Jardim Natal está entre os que, proporcionalmente, têm as menores populações idosas, apenas 5,5%, ficando na 78ª posição entre os 84 bairros analisados. Isso demonstra que o aumento dos casos de violência na região pode não ser restrito aos idosos. Por isso, o presidente da Comissão de Defesa dos Idosos da Câmara, Isauro Calais (PMN), defende que os índices apresentados sejam analisados cuidadosamente para que se verifiquem as situações de vulnerabilidade.
O titular da 1ª Delegacia Regional de Polícia Civil, Paulo Sérgio Virtuoso, esclarece que os furtos foram os principais crimes verificados, mas ponderou que não são cometidos apenas contra idosos, já que atingem os demais grupos etários. "É preciso ter cuidado ao analisar os dados, porque a Polícia Civil levantou todos os crimes mais praticados. Por isso, a maioria das vítimas do nosso levantamento é composta por homens que transitam pelo Centro. Isso porque o furto é tradicionalmente um crime mais comum nessa região, devido ao fluxo de pessoas e concentração de comércio e serviços, e praticado contra homens. Mas, como apontado pelo Creas (Centro de Referência Especializado de Assistência Social), quando a violência ocorre dentro de casa, a maioria das vítimas é mulher." O relatório ainda aponta que quase 60% dos idosos vitimizados têm entre 60 e 69 anos (ver quadro).
Segundo dados apresentados pelo Creas Idoso/Mulher, houve aumento de 40% no número de denúncias de violência recebidas pelo Creas no comparativo dos cinco primeiros meses de 2012 e 2013, e cerca de 60% das vítimas são mulheres. Os principais casos são negligência, abuso financeiro e violência psicológica, sendo que os principais autores são as mulheres e os filhos das vítimas. "Isso não quer dizer que a violência contra os idosos aumentou, mas que eles denunciam mais, talvez porque hoje exista mais acesso a esses serviços", defende a coordenadora Arlene Motta.

Luta para JF ter delegacia especializada

A abertura da "Campanha de enfrentamento da violência contra o idoso" contou com a participação do prefeito Bruno Siqueira (PMDB), que se comprometeu a assinar um requerimento que visa à implantação de uma delegacia especializada. Entre os resultados do evento estão a intenção de unificar os registros de crimes que atingem essa faixa etária e criar um grupo de trabalho permanente para atuar em conjunto com a comissão da Câmara. "Precisamos ter não só um dia ou uma semana de ativismo, mas estabelecer uma rede para analisar esses dados em conjunto e periodicamente", cobrou a vice-presidente do Conselho dos Idosos, Regina Garcia.
A defensora pública Adriana Campos também ressaltou que a violência que ocorre dentro de casa é a mais difícil e complexa de ser combatida. Segundo ela, entre as principais demandas recebidas pela defensoria estão "ações contra planos de saúde, a questão do superendividamento, casos de idosos que sofrem privações em casa por conta de filhos envolvidos com drogas e de violência doméstica e familiar".
A campanha lançada nesta segunda foi idealizada para marcar o Dia Mundial de Combate à Violência contra o Idoso, celebrado na próximo dia 15. Além da divulgação do relatório, uma série de atividades ocorre durante a semana. Um dos destaques da programação é a marcha de enfrentamento programada para esta quarta-feira (12), a partir das 8h, quando manifestantes vão sair da Câmara Municipal em direção à Praça da Estação, onde haverá estandes voltados para ações de saúde e assistência social voltada aos idosos.