terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Homem é preso por manter doutoranda em cárcere privado em Viçosa







Uma estudante de doutorado da Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Viçosa, na Zona da Mata, foi agredida e mantida em cárcere privado pelo namorado, por cerca de um ano. Na última semana, a mulher de 29 anos, conseguiu fugir do apartamento onde morava com Renato Ferreira da Silva Junior, 33, refugiou-se na universidade e entrou em contato com a polícia. Junior foi preso na última sexta-feira (31).


A vítima é natural do Estado do Paraná e se mudou para a cidade mineira em 2013 para fazer doutorado no curso de veterinária. Eles namoravam há quatro anos. Segundo a Polícia Civil, o homem, que é natural do Rio de Janeiro, também se mudou para cidade para morar com a estudante.
Os dois teriam se conhecido em Curitiba (PR), onde ela fez o mestrado, em 2009. “Na época, ele falou para a família dela que era um oficial da Marinha. Mas era mentira, porque ele não tem nem segundo grau completo”, explicou o inspetor Wilson Gurgel, da Delegacia de Polícia Civil de Viçosa.
De acordo com o delegado José Donizette Teixeira, o casal manteve o namoro através de telefone e da internet por cerca de um ano. Durante esse período, Junior viajava do Rio para Curitiba de tempos em tempos e ficava com a vítima por cerca de uma semana em cada visita. Nessa época ele se mostrava um homem amoroso e apaixonado.
Quando a mulher ia ao Rio de Janeiro, ela sempre ficava em um hotel, nunca conhecendo nenhum dos familiares do acusado. Como oficial da Marinha, o homem teria contado que fazia missões secretas no exterior, inclusive no Egito, onde teria se tornado muçulmano.
Em Viçosa, o casal morava em um apartamento, no 10º andar, na avenida Peter Henry Rolfs, a principal da cidade, na região central, as custas da bolsa de doutorado. Junior teria dito ser capitão da Polícia Militar (PM), no Rio de Janeiro, mas além da Polícia Civil descobrir que não era verdade, não encontrou nenhuma ocupação que ele tivesse.
A mulher ficava o tempo todo trancada dentro de casa, só sendo liberada para ir à universidade. Mesmo assim, ele a levava e a buscava.“Ele possuía uma dominação psicológica sobre ela”, contou o inspetor. Até para ir ao banheiro e para se alimentar, ela pedia autorização. A estudante teria chegado a usar uma espécie de burca, dizendo aos conhecidos que era muçulmana, enquanto ele se vestia com roupas normais. Aos poucos, ela deixou de fazer contato com a família.
Vivendo juntos, ele começou a mostrar um temperamento agressivo, possessivo e criminoso. Já no primeiro dia juntos, ele a espancou simplesmente porque o táxi errou o endereço de sua residência, informou o delegado. A estudante não denunciava as agressões, porque Junior ameaçava matar a família dela.
A vítima também usava lenços para esconder as marcas de agressão. Em julho do ano passado, ela chegou a cair da janela do apartamento, de uma varanda do 9º andar. No hospital, Junior afirmou que ela limpava a janela quando caiu e a mulher confirmou a história dele. A polícia acredita que a mulher tenha pulado para se livrar de um espancamento.
Na última terça-feira (28), a estudante fugiu e se escondeu na universidade. Junior procurou a polícia para prestar uma queixa de desaparecimento. Quando policiais civis foram procurar a mulher, analisaram as imagens das câmeras de segurança do prédio e viram que ela tinha saído correndo, em fuga do local. Após localizarem ela, a estudante contou o que acontecia dentro de casa. Um mandado de prisão foi expedido e cumprido contra Junior na última sexta-feira (31).
O suspeito está detido no Presídio de Viçosa e ainda não foi ouvido. Ele deve responder por cárcere privado e lesão corporal, mas em liberdade, já que a detenção dele é provisória, de no máximo cinco dias. “Este é o primeiro caso, com este tipo de ‘anomalia’, na cidade”, espanta-se o inspetor. O homem já tem uma passagem pela polícia por agressão doméstica, no Rio de Janeiro, mas ainda não foi condenado pela denúncia. O notebook de Junior foi apreendido, e nele foram encontradas fotos que mostram agressões contra a mulher. Com Junior também foram localizados cartões de crédito da vítima. No mesmo dia da prisão, a família da estudante a buscou.
Algumas pessoas que conviviam com a estudante no doutorado foram ouvidas pela polícia. Eles contaram que a mulher era uma pessoa reservada, que não conversava muito e não se aproximava das pessoas. Um comportamento bem diferente dos demais estudantes. De acordo com a polícia, o celular da vítima só possuía o contato de três pessoas da cidade. “Agora queremos saber se ele já fez outras vítimas”, afirmou o inspetor.
Acolhimento
A estudante de 29 anos foi atendida pelo projeto Casa das Mulheres da UFV, que é parceira da Polícia Civil. Estudantes de direito e de psicologia atendem a mulheres vítimas de agressão doméstica, desde 2011. Elas recebem aconselhamentos jurídico e são acompanhadas. A proposta é pioneira no Estado.
A Coordenadoria de Comunicação Social da Universidade Federal de Viçosa (CCS/UFV) informou que a instituição está dando todo o suporte necessário para a estudante e para a família, para garantir que ela continue e conclua o doutorado. Contudo, a UFV não irá se pronunciar em relação ao crime sofrido pela estudante, para garantir a integridade física dela.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Os comentários postados pelos leitores deste blog correspondem a opinião e são responsabilidade dos respectivos comentaristas leitores e não correspondem, necessariamente, a opinião do autor do Blog dos Agentes Penitenciários de Juiz de Fora.

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.