quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Professores pedem socorro em JF

A cada três dias, sindicato da categoria recebe uma denúncia de agressão física ou verbal contra docentes das redes pública e particular

Por Daniela Arbex

Cada vez mais fragilizada, a relação aluno/professor teve o medo acrescentado em um de seus componentes. A cada três dias, o Sindicato dos Professores de Juiz de Fora (Sinpro) recebe um telefonema com pedido de ajuda de docentes das redes pública e particular que são alvo de algum tipo de violência física ou verbal não só de estudantes, mas de seus familiares. A situação também é revelada pelo Sindicato dos Professores de Minas, que realizou pesquisa sobre a percepção dos docentes a respeito da violência nos estabelecimentos de ensino do setor privado no estado. O resultado é que 62% disseram ter presenciado agressão verbal, 39% relataram ter visto situações de intimidação e 35% de ameaça. Apesar de ser feito um acompanhamento momentâneo dos episódios, na maioria dos casos, o desfecho de cada ocorrência é desconhecido. Na prática, são raras as situações em que há responsabilização do agressor, com a realização de um trabalho de apoio para identificação das causas de uma postura violenta e garantia de suporte que possibilite mudanças de atitude. No final do desgastante processo de uma ocorrência provocada por desrespeito a quem busca ensinar, resta a desesperança que deforma ainda mais a imagem da educação.
Em dezembro do ano passado, a Escola Municipal Antonino Lessa, no Bairro Santa Efigênia, suspendeu as aulas depois que a diretora e uma professora foram atingidas a pauladas pela tia de um estudante de 12 anos. Além de atacar as docentes, ela jogou pedras contra a instituição e quebrou os vidros das janelas. Descontrolada, a mulher cobrava explicações sobre a agressão ao aluno, após uma briga entre ele e um colega. O pai de um dos meninos teria atingido o estudante para defender o filho. Tanto a diretora quanto a professora entraram de licença para tratamento psicológico.
Há quase seis meses afastada da sala de aula, a professora de português dos anos finais do ensino fundamental Maria Clara Ferreira Spínola, 28 anos, chegou a pensar em pedir exoneração do cargo. Desde que soube que seu aluno teria pedido ao padrasto uma arma para acertar contas com a professora, chegando também a manifestar desejo de levar uma faca para a escola, ela perdeu a estabilidade emocional para continuar. A atitude, que parece exagerada num primeiro momento, afinal o autor da ameaça tem apenas 12 anos, é justificada por ela como um ato de preservação. "Não quis virar estatística, já que temos visto muitos casos nos quais os adolescentes da cidade chegam às vias de fato e consideram status ostentar toda essa violência. Eles fazem parte de uma geração perdida. O pior é que a escola tratou o meu caso como isolado. Os colégios querem responsabilizar o professor pela violência que ele sofre. A gente é vítima, mas tem medo de virar réu. O que eu lamento é a falta de ambiente propício para os adolescentes que querem estudar, e estes são muitos. A maior parte dos alunos tem sede de saber, mas o potencial deles está sendo desperdiçado", comenta a professora, que está em tratamento médico desde agosto de 2013, quando o episódio veio à tona. Ela diz que uma de suas solicitações, a de transferência para outra escola, ainda não foi atendida pela Superintendência Regional de Educação (SRE). O pedido, segundo a professora, foi endereçado ao órgão em outubro do ano passado. A superintendente regional de ensino, Belquis Furtado, informou que Maria Clara foi nomeada no primeiro semestre do ano passado e encontra-se em estágio probatório. "Recebi a solicitação dela em janeiro deste ano e encaminhei para a Secretaria Estadual de Educação. O caso dela está sob análise."
Agredida com uma cadeira por uma mãe de aluna, uma professora da rede particular de Juiz de Fora levou alguns anos para superar o trauma de ter sua dignidade ultrajada. Com pouco apoio da escola, ela se viu sem ambiente para continuar. Sentiu-se tão pressionada que resolveu pedir demissão e deixar o local onde foi alvo de violência. Apesar de mudar de emprego, precisou de tempo para lidar com as lembranças do dia em que foi atacada. Hoje, atuando em outro colégio particular, ela prefere não falar sobre o assunto que a fez adoecer.
Também afastada por problemas de saúde há um ano e meio, Fátima Barcellos, uma das diretoras do Sinpro, diz que a escola virou local de enfrentamento. "Estamos cada vez mais frágeis diante dos alunos. O que impera é a busca de resultados rápidos, mas sem que tenhamos qualquer condição de trabalho. Isso é paradoxal. Além do mais, alunos agressores têm um histórico familiar comprometido, em função de problemas sociais. Nos transformamos em reféns dessa estrutura."

Desvalorização
A coordenadora-geral do Sinpro Juiz de Fora, Aparecida de Oliveira Pinto, mostra-se preocupada com a forma como a educação vem sendo desenhada. "Falar da violência na escola é falar da violência na qual a sociedade está mergulhada. Sem políticas para a juventude, muitos estudantes carregam para o ambiente escolar público os conflitos nos quais estão mergulhados. Já na rede particular, os alunos repetem em sala de aula o que a família diz em casa: sou eu quem pago o seu salário. A violência verbal predomina nas escolas particulares, e o medo de denunciar e perder o emprego também. Assim, a educação torna-se uma mercadoria, e o professor um produto."
Para a diretora do Sind-UTE, Victória Mello, a desvalorização do trabalhador da educação fragiliza o papel do professor. "A criança e o jovem se referenciam pelo valor social da autoridade, e este valor está sendo retirado do professor."

Fonte: Tribuna

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