terça-feira, 14 de maio de 2013

Idoso de 87 anos é morto em abrigo a golpes de bengala

Companheiro de quarto da vítima, de 70 anos, foi preso e, após ser ouvido, foi encaminhado ao Ceresp

Por Marcos Araújo e Flávia Crizanto

Um idoso de 87 anos foi morto com golpes de bengala na cabeça dentro do alojamento onde dormia no Abrigo Santa Helena. O homicídio de Adolfo Pires Brasil foi registrado durante a madrugada, mudando a rotina da instituição localizada na Vila Ideal, Zona Sudeste, onde vivem hoje 143 internos. Adolfo sofreu vários ferimentos na face, principalmente na região do olho direito, e a morte dele foi confirmada no local. Um idoso, 70, que dividia o quarto com a vítima foi preso em flagrante pela Polícia Militar. De acordo com o boletim de ocorrência, o suspeito teria relatado que, no último domingo, Adolfo teria tentado lhe agredir, usando uma muleta de madeira. Porém, a agressão não foi consumada, porque outros internos teriam impedido. Na madrugada desta segunda-feira (13), quando a vítima dormia, o companheiro de quarto pegou a bengala (tipo andador de metal) que usava para caminhar e a desferiu diversas vezes contra a vítima.
Ainda conforme o registro policial, ele teria praticado o homicídio por medo, já que, desde sua internação no estabelecimento, estaria sendo ameaçado por Adolfo e tinha receio de denunciar, pois já teria recebido ameaças de morte e de ter seus pertences quebrados. No boletim de ocorrência, uma testemunha teria confirmado a versão sobre desentendimento entre os dois envolvidos. Uma outra contou que já tinha presenciado agressões partindo da vítima para outros internos. Ambas as testemunhas também relataram que não viram como a morte de Adolfo teria acontecido.
A diretoria do Abrigo Santa Helena confirmou que a vítima foi encontrada com a cabeça ferida na cama do alojamento, durante a ronda de uma enfermeira que estava de plantão, por volta das 2h desta segunda. O Samu foi acionado e confirmou o óbito. Pela manhã, o corpo de Adolfo foi encaminhado para o Instituto Médico Legal (IML). O andador de metal usado no homicídio foi apreendido pela polícia.
O suspeito foi levado para a delegacia de Santa Terezinha, onde o delegado de plantão confirmou o flagrante, sendo depois conduzido ao Ceresp. De acordo com o Estatuto do Idoso, ele deve permanecer em uma cela especial. "Não existem impedimentos para que as pessoas maiores de 60 anos sejam presas, entretanto o estatuto prevê atenuantes da pena em algumas situações. Vamos acompanhar para garantir que, nesse caso, todos os direitos desse senhor sejam cumpridos", explicou a presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Elvia Magalhães.

Preocupação
O presidente do Abrigo Santa Helena, Antônio Carlos Estevão, lamentou o ocorrido, classificando-o como totalmente isolado e inesperado. "Ocorreu de madrugada, e é inédito. Não havia nada que nos levasse a pensar que isso pudesse acontecer e que nos levaria a tomar uma medida preventiva. Infelizmente aconteceu e nos traz preocupação." Antes da confirmação da prisão do suspeito, o presidente do asilo disse que o abrigado seria desligado da instituição e entregue aos familiares. "Não é uma medida de represália, mas que se faz necessária."
Quanto à vítima, Antônio Carlos Estevão informou que vai solicitar ao Ministério Público o acompanhamento do caso, a fim de que todas as providências sejam adotadas. Entretanto, até a noite desta segunda, o caso ainda não havia sido encaminhado à Promotoria de Saúde.
O Abrigo Santa Helena foi fundado em 10 de outubro de 1915. É uma instituição civil e filantrópica, cujo objetivo é abrigar, sob regime de internamento, pessoas idosas carentes, desde que se submetam ao seu regulamento interno. Como apontou o presidente do asilo, em sua história, nunca houve casos de briga, nem de menor repercussão. "Isso se deve ao perfil de nossos internos. A maioria deles, 90%, são dependentes e precisam sempre de auxílio de outra pessoa. Sobre a segurança, vamos avaliar, mas é difícil, porque a vítima morreu de madrugada, dentro de seu alojamento e quando estava dormindo. Não sabemos, na verdade, o que houve."
Estevão também explicou que todos os internos passam por avaliação no pedido para ser abrigado, com entrevista a um psicólogo e a um assistente social, além de exame médico. A família dele também é submetida a uma avaliação. "Todo esse cuidado é porque não podemos abrigar idosos com perfil de violência", observou o presidente do abrigo.


JF sem estrutura e sem delegacia especializada

Juiz de Fora envelhece mais do que a média do estado e, consequentemente, enfrenta problemas graves, como a falta de abrigos públicos para servir essa população quando necessário e uma estrutura urbana que não acompanha as demandas surgidas ao longo dos anos. Esta realidade já foi compilada em dados, por meio de diagnóstico feito pela UFJF, em parceria com a Prefeitura, mas a situação fica mais evidente quando fatalidades ou tragédias ocorrem, como o caso desta segunda, no Abrigo Santa Helena. "Ainda não temos uma delegacia que sirva de referência. Em casos como esse, seria de extrema importância. Além disso é preciso lembrar que existe o preconceito social. O país está envelhecendo, e as pessoas ainda não estão preparadas para a inversão da pirâmide, na qual os mais velhos passam a ser maioria", opina a coordenadora no Centro de Convivência do Idoso de Juiz de Fora, Rosângela Bonoto.
Em recente matéria feita pela Tribuna, mostrando a situação de instituições da cidade, a direção do abrigo ressaltou as dificuldades financeiras para manter o local funcionando e para realizar o pagamento de funcionários. Apesar dos problemas que enfrenta, o Abrigo Santa Helena é considerado pelo Ministério Público como uma referências na cidade, por ser um dos poucos que possui toda documentação devidamente adequada, como alvará da Vigilância Sanitária e auto de vistoria do Corpo de Bombeiros. A pasta também descreve a instituição como muito criteriosa, tanto para receber seus albergados, quanto para conduzi-los no dia a dia. "Existe um problema sério, que é a falta de políticas públicas e, nesse contexto, as instituições filantrópicas lutam para se manter", afirma Rosângela.

Acompanhamento
De acordo com a presidente da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Elvia Magalhães, os casos que envolvem idosos devem ser avaliados com muito cuidado porque, muitas vezes, são pessoas com debilidades físicas ou mentais. "No caso do abrigo, primeiro é preciso fazer uma avaliação por meio do inquérito que foi instaurado. A nossa comissão tem interesse em acompanhar os fatos, pois trabalha para defender o direito das pessoas e observar se eles estão sendo cumpridos, sem desvio de conduta.

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