O Primeiro Comando da Capital investiu R$ 1 milhão num plano ousado para
resgatar a cúpula da facção reclusa na Penitenciária 2 de Presidente
Venceslau. O dinheiro foi investido na aquisição de dez veículos – entre
eles uma Mercedes e um Cherokee blindados –, aluguel de galpão e compra
de um arsenal de guerra composto de fuzis, submetralhadoras e granadas,
segundo o Ministério Público.
Para concretizar a ação, os integrantes em liberdade deveriam
arregimentar “grande número de criminosos” fortemente armados para
levarem a melhor em um confronto com a polícia.
Na P2 de Venceslau, como o presídio é conhecido, estão concentrados os
principais líderes da organização – entre eles Marcos William Herbas
Camacho, o Marcola, Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, Júlio
César Guedes de Moraes, o Julinho Carambola, e os ribeirão-pretanos
Almir Rodrigues Ferreira, o Nenê do Simioni, e Rodrigo Boschini, o Boy.
A ação só não foi concretizada porque foi descoberta antes pelo Grupo de
Atuação Especial de combate ao Crime Organizado (Gaeco) de Presidente
Prudente. Interceptações telefônicas e delação de testemunhas protegidas
desvendaram minúcias da operação frustrada, conforme denúncia
encaminhada à Justiça no mês passado.
Investigação dos promotores identificou os 175 principais líderes da
facção no Estado. Todos, entre eles sete chefões de Ribeirão, são
acusados por formação de quadrilha armada, associação para o tráfico de
drogas e de armas.
Os promotores apuraram que o resgate, apelidado de “caminhada do
cachorro quente”, era coordenada pelo preso Roberto Soriano, o Tiriça,
com o auxílio de três homens de confiança. Os grampos deixam claro que,
apesar de a facção controlar o tráfico de dentro da penitenciária, a
principal preocupação dos líderes entre abril de 2010 e março de 2012
era com o plano de resgate, que os colocaria em liberdade.
Na gravação de 9 de abril de 2010, Tiriça diz a Gegê do Mangue:
“Referente à caminhada do cachorro quente, vou estar puxando esse bonde
[coordenar os preparativos] pra resolver isso logo”.
Cinco meses depois, o mesmo detento avisa numa teleconferência que já
chegaram 8 fuzis AR-15 para o “hot dog” [resgate]. Na ligação, o preso
orienta um comandado a arrumar duas ou três pessoas com espírito de
liderança porque já tem “dez veículos na mão”. O preso lembra que, na
lista do material, não pode faltar “pelo menos uns quatro ou cinco
alicates de pressão para cortar grades e trancas”.
Em outra ligação, um dos líderes ordena um comparsa da rua que suborne
um PM para descobrir qual objetivo de uma operação do Batalhão do Choque
em Presidente Venceslau. Dias depois, em conversa com Gegê do Mangue,
Tiriça conclui que a PM só pode estar ali fazendo aquela megaoperação na
penitenciária porque descobriu a existência do resgate.
“A ação do Choque está acontecendo por irresponsabilidade de uma pessoa
que perdeu uma carta com as informações sobre o plano de resgate”, diz.
Missão
Resgatar integrantes, principalmente os presos em “missão da facção”, é
um dos principais objetivos do Primeiro Comando da Capital, afirma o
Ministério Público Estadual.
A megaoperação comandada pelo Gaeco frustrou também o resgate de um dos
líderes, possivelmente Alexandre Cardozo da Silva, o Bradock, preso em
2006 durante ataques às forças de segurança do Estado. Ele deveria ser
resgatado no 29 de março do ano passado, quando fosse ao Fórum de Sumaré
para uma audiência.
O ribeirão-pretano Rodrigo Aparecido Ponce Marto, o Babão, foi um dos
recrutados para participar do crime que acabou sendo frustrado por
policiais da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota).
No dia 25 de março, em conversa grampeada com Rodrigo Zamarolli, o
Brian, Babão fala sobre os preparativos da ação. Diz que está difícil
conseguir um carro blindado, mas que já alugaram a chácara para “os
irmãos” ficarem até o dia da ação. Combinam de levar mulheres e fazer um
churrasco para disfarçar.
Na madrugada do dia do resgate, a Rota invadiu a chácara na região de Campinas e frustrou a ação do bando.
'Vida se paga com vida'
No mês de julho de 2011, os promotores de Presidente Venceslau
descobriram que a cúpula do PCC determinou a alteração do estatuto da
facção.
O artigo 18 do estatuto passou a prever que: “Todos os integrantes têm o
dever de agir com serenidade em cima de opressões, assassinatos e
covardia realizada por agentes penitenciários, policiais civis e
militares e contra a máquina do Estado. Quando algum ato de covardia,
extermínio da vida, extorsões que forem comprovadas estiverem ocorrendo
na rua ou na cadeia por parte de nossos inimigos, daremos uma resposta à
altura do crime. Se alguma vida for tirada com esses mecanismos pelos
nossos inimigos, os integrantes do comando, que estiverem cadastrados na
quebrada do ocorrido, deverão se unir e dar o mesmo tratamento que eles
merecem. Vida se paga com vida e sangue se paga com sangue”.
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