terça-feira, 29 de outubro de 2013

Professor lança livro sobre Segurança Pública

'É preciso que o Estado ofereça às polícias melhores condições de recursos humanos e logística'

Por Renata Brum
Bedendo lança livro no Forum da Cultura, nesta terça
Debater as responsabilidades dos atores sociais envolvidos na dinâmica da segurança pública e discutir os desafios da relação do setor com a imprensa. Esses são alguns dos objetivos do livro "Segurança Pública e Jornalismo: desafios conceituais e práticos no século XXI", do jornalista e professor da Faculdade de Comunicação (Facom) da UFJF, Ricardo Bedendo, que já passou pela redação da Tribuna. A obra será lançada nesta terça-feira (29), às 19h30, no Forum da Cultura. Publicado pela editora Insular, o livro é uma reunião de experiências conceituais e práticas, segundo Bedendo, pautadas na experiência de sete anos consecutivos de cobertura jornalística nessa área e na pesquisa acadêmica sobre o tema.

Tribuna - Qual o principal desafio para a segurança pública na cidade? E para o jornalismo?
Ricardo Bedendo - O desafio conceitual que proponho aos acadêmicos de jornalismo logo nos primeiros dias de aula nos ajuda a responder essa questão: jornalismo policial ou jornalismo de segurança pública? Cada vez mais nos parece muito clara a percepção de que a maioria dos acontecimentos nessa área não é apenas de intervenção ou resolução "policial". A polícia é um dos eixos estratégicos do cíclico Sistema de Justiça Criminal/Social. Precisamos avançar no entendimento de que outras instituições e atores sociais têm responsabilidades nas dinâmicas da segurança pública, que deve ser vista contemporaneamente como status de qualidade de vida e de bem-estar social. Com essa visão amadurecida, os jornalistas ajudam a crescer o debate e a pautar, com maior qualidade, as políticas públicas. Da mesma forma, o Estado e os agentes desse sistema passam a conviver com outras responsabilidades, a começar pela urgente necessidade de ações integradas, que sejam consoantes com as realidades sociais das comunidades e dos operadores dessas políticas.

- Como você avalia a cobertura policial de antes e a realizada agora, mudou muito? E a relação entre a imprensa e os organismos da ordem?
- Quando era repórter, sempre ouvi muito das minhas fontes que estava diante de problemas sociais profundos, e isso me fazia pensar diariamente no "como" noticiar. Felizmente, os jornalistas com os quais trabalhei me ajudaram bastante diante desses desafios éticos e, juntos, avançamos em muitos aspectos na busca por um jornalismo mais de "segurança pública" do que apenas "policial". Foram essas experiências como repórter que me despertaram o interesse em pesquisar a segurança pública no mestrado e, consequentemente, na Facom/UFJF. Hoje, como professor,entendo que os desafios ainda são muitos. Entre eles, o de uma maior compreensão de que a pauta e a manchete nesse setor não se originam apenas da tragédia alheia. Existem muitas iniciativas de caráter pedagógico-social de instituições e de agentes da segurança, que merecem maior destaque. Creio, assim, que as relações entre jornalistas e as instâncias do Sistema de Justiça Criminal/Social avançaram, mas ainda podem melhorar, especialmente por meio de esforços de todos os lados no estudo e na compreensão de culturas, de formas, de responsabilidades e de limites de atuação.

- Como você vê o cenário da segurança pública na cidade? A violência aumentou?
- Assim como em outros centros urbanos em expansão, em Juiz de Fora, é perceptível o aumento dos registros de algumas modalidades do crime e da desordem, bem como das sensações de insegurança e de impunidade entre parcelas da população. Então, o momento é sugestivo para pensarmos na divisão equilibrada de responsabilidades, desde o papel da imprensa na divulgação dos fatos, à participação efetiva do cidadão, à ação eficaz dos órgãos de Defesa Social e às gestões do Executivo, Legislativo e Judiciário. A situação provoca, portanto, um alerta de como precisamos voltar no tempo para subsidiar as respostas a esses dilemas no presente. Certamente, há um déficit histórico que deve ser levado em consideração no que diz respeito à ausência ou às lacunas de políticas públicas sociais e de investimentos nas instituições que trabalham diretamente na prevenção e na repressão da criminalidade. Um exemplo: as recentes rixas e mortes entre os jovens na cidade têm em sua gênese aspectos histórico-sociais, que chamam ao dever outras instâncias de poder, para além das polícias. É um sistema de ações interligadas, ou seja, uma falha em um eixo vai afetar precisamente a atuação de outro.

- Como avalia as estratégias de segurança pública do Estado? Apesar de se falar em prevenção e policiamento comunitário, faltam policiais e estrutura. Como lidar com isso?
- Entendo que há uma contradição entre o discurso de que segurança pública não se faz apenas com polícia (com o qual concordo) e a pressão sobre os policiais por resultados numéricos e estatísticos, no que tange à redução da criminalidade violenta, exercida pelo modelo estadual de Integração da Gestão em Segurança Pública (Igesp). Essa é uma cobrança que deve sim existir, mas não pode ser tratada de forma a reforçar na sociedade e nos próprios agentes da segurança a ideia de que essa redução é uma atribuição essencialmente policial. É preciso que o Estado ofereça às polícias melhores condições de recursos humanos e de logística para lidar na prática com os fatos que compõem as estatísticas e que, principalmente, haja maior incentivo na ampliação de políticas e de projetos que fomentem a integração dos policiais com outras instâncias capazes de contribuir para ações preventivas. O geoprocessamento deve ser social e integralizado, bem como deve considerar que o crime e a desordem podem ter suas origens tanto nos cenários onde há ausência de oportunidades (entre as classes menos favorecidas), quanto naqueles nos quais há excesso de oportunidades (entre as elites). E penso que Juiz de Fora está, agora, dando um bom exemplo: a preocupação em elaborar um Plano Municipal de Enfrentamento da Violência e a consequente iniciativa de implementação do Laboratório de Estudos Sobre Violência, no Centro de Pesquisas Sociais da UFJF, devem ser vistas como referências nessa dinâmica coletiva de reflexões e de ações.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Os comentários postados pelos leitores deste blog correspondem a opinião e são responsabilidade dos respectivos comentaristas leitores e não correspondem, necessariamente, a opinião do autor do Blog dos Agentes Penitenciários de Juiz de Fora.

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.