quinta-feira, 29 de novembro de 2012

JN visita presídio onde estão alguns dos bandidos mais perigosos do país

Penitenciária Federal de Porto Velho não tem registro de maus-tratos, de doenças contagiosas ou de superlotação, mas é o pesadelo dos criminosos. Suspeitos de mandar matar PMs de SP foram transferidos para lá.

 

Os repórteres do Jornal Nacional entraram na penitenciária federal onde estão alguns dos bandidos mais perigosos do Brasil, em Rondônia. Rodrigo Alvarez, Marcos Di Gênova e Wílson Araújo mostram por que o presídio que não tem registro de maus-tratos, de doenças contagiosas ou de superlotação é o pesadelo dos criminosos.
A penitenciária para onde foram os presos transferidos de São Paulo é um lugar onde criminoso jamais é chamado pelo apelido. Não tem direito a cigarro, não fala no celular e só tem as algemas abertas depois de se ajoelhar na cela, com as mãos imóveis, para o lado de fora.
Você vai ler nessa reportagem, pela primeira vez, os procedimentos da Penitenciária Federal de Porto Velho. A rotina de alguns dos homens mais perigosos do Brasil.
Os internos passaram as últimas 22 horas trancados, e finalmente saem das celas. Eles se cumprimentam. Estão livres. Duas horas de banho de sol. Só que com chuva, não tem sol, mas isso não muda nada.
São no máximo 13 presos em cada uma das 16 alas. Ao todo, 208 vagas.
E tem gente nova na enfermaria. O nome é Roberto Soriano. O apelido, Betinho Tiriça. Ele é acusado de 10 tipos de crimes, sem nenhuma condenação. Segundo a polícia, o homem foi flagrado duas vezes dando ordens para matar PMs em São Paulo.
A chegada nunca é tranquila.
“Dá insônia, dá crise de ansiedade. Se conseguir conversar com algum interno e vovê perguntar: ‘o que você sente aqui?’ A maioria deles é assim, tristeza”, detalha um enfermeiro.
Todo preso que entra no Sistema Penitenciário Federal passa por 20 dias de isolamento. O interior da cela é praticamente só concreto, em Porto Velho. Não tem tomada, não entra equipamento eletrônico, não entra televisão, rádio, nada. Os presos não controlam a luz, não controlam também o chuveiro. O único privilégio que dá para dizer que eles têm é uma entrada de luz constante.
Na cela um, sem direito a banho de sol, Francisco Antônio Cesário da Silva recebe livros. Fora da prisão ele é o Piauí, chefe do crime na favela paulistana de Paraisópolis, com uma longa ficha que vai de assassinato a falsificação de identidade. Além de uma condenação por sequestro.
Na prisão anterior, segundo a polícia, mandava ordens para matar policiais. Agora não manda nada. Faz requerimentos oficiais.
Na tarde desta terça, a Justiça Federal decidiu prorrogar o isolamento de Piauí e Tiriça por mais 10 dias. Com isso, eles perdem o direito à visita íntima.
“Deveria ser acabado, proibida a visita íntima nas prisões federais. Se não for o único ponto vulnerável no local hoje, é o principal disparado”, afirma o diretor do presídio, Jones Ferreira Leite.
Os mais comportados têm quatro horas-extras por semana, em um programa de reinserção social.
“Aquele que chega com problema de comportamento ou acusado de casos graves, de atentados contra autoridades policiais, eles têm que observar a recuperação dos demais. Então ele vai ver isso e vai querer também participar”, fala o juiz corregedor Marcelo Lobão.
As videoconferências com parentes que moram longe também são só para os bem comportados.
Um dos presos condenado por dois assassinatos, agora tem uma novidade para a família. “O excelentíssimo juiz federal daqui assinou o meu retorno. Fiquei sabendo hoje”, conta ele.
O retorno é para uma prisão comum em Alagoas. A mãe se ajoelha e agradece a Deus.
O presídio federal não oferece riscos ao interno. É limpo, tem atividades educacionais, mas o preso lá fica longe da família e dos comparsas e acaba desarticulado.
Mesmo que seja para uma prisão superlotada e arriscada, a saída da Penitenciária de Porto Velho é sempre comemorada.

Fonte: G1

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