Mister Colibri é investigado na Índia e seus endereços não conferem no Brasil
FOTO: REPRODUÇÃO/INTERNET
Sucesso. Gian Piero di Cillo, à frente, de terno, participa de evento de divulgação da Mister Colibri
"Ganhe
dinheiro assistindo a vídeos na internet". A frase é a isca do site
Mister Colibri para atrair associados. A promessa é que cada um receba
US$ 20 por semana apenas por assistir a um minuto e meio de propaganda.
Para isso, basta pagar uma taxa anual de US$ 299 (cerca de R$ 600) para
começar a receber os rendimentos. O próprio site faz a conta: A
remuneração é de US$ 960 (R$ 1.920) - rendimento de 220% ao ano, ou mais
de 18% ao mês.
O porém é que esse lucro vem numa moeda própria, chamada LP, e não em dinheiro. Cada LP vale US$ 1, e é assim que os participantes conseguem pôr a mão em dinheiro de verdade: vendem seus LPs uns para os outros.
O esquema dá certo. Pelo menos até que a pirâmide caia, ou seja, que os pequenos pagamentos parem de ser feitos e os investidores fiquem a ver navios. Embora milhares de pessoas estejam se declarando felizes e "ricas" com o sistema, a suspeita é que o Mister Colibri faça parte de um esquema internacional de fraudadores e estelionatários investigado na Índia por golpes financeiros, e que também estaria atuando em outros países da América Latina.
A empresa está no Brasil há pouco mais de um ano, e há controvérsias sobre o número de associados. Segundo uma participante, nas palestras que divulgam o modelo de negócios, os organizadores falam em 30 mil. Mas o diretor comercial do Mister Colibri no Brasil, Gian Piero di Cillo, afirma em sua página no Facebook que são quase 120 mil associados.
De acordo com o material de divulgação da Mister Colibri, a empresa veio para "resolver o problema das grandes corporações". Multinacionais estariam dispostas a pagar enormes quantias de dinheiro em troca de um "público fiel" para suas propagandas. Esse dinheiro da publicidade seria o responsável pela "alta remuneração" dos associados.
Segundo uma das associadas ao site, as propagandas que eles têm de assistir são de empresas como Coca-Cola, Samsung, LG e BMW. Coca-Cola e BMW, que, porém, já negaram parceria com o site, segundo o jornal "El País", da Colômbia, em reportagem sobre o assunto.
A representação da Mister Colibri no Brasil é da Omnia Serviços Publicitários e Representações Ltda. Segundo a Receita Federal, a empresa funciona na avenida Dom Luís, 20, em Fortaleza, no Ceará. Já no site da Omnia, a empresa é descrita como fornecedora de equipamentos para tratamento de lixo urbano. O endereço de instalação é outro: avenida Historiador Raimundo Girão, 630, também em Fortaleza. Dos quatro telefones de contato divulgados, nenhum atende, e o e-mail informado é devolvido como inexistente.
Gian Piero di Cillo é citado no site como diretor de marketing da Omnia, mas a página que traria seu perfil não tem conteúdo, assim como o link que mostraria os serviços da empresa.
Di Cillo também aparece no material de divulgação da Mister Colibri como diretor comercial e braço direito do italiano Elia de Prisco, que seria responsável pelo site na América Latina. Prisco é apontado pelo jornal indiano "The Times of India" como um dos diretores da Seven Rings International, que está sendo investigada por crimes financeiros. A polícia indiana está levantando possíveis ligações entre a Seven Rings e os sites SpeakAsia e AdMatrix, que foram fechados por praticarem "pirâmide financeira", o que é crime. A reportagem de O TEMPO tentou falar com a Mister Colibri diversas vezes na última semana, por telefone, e-mail e pelo Facebook, mas não obteve resposta.
O porém é que esse lucro vem numa moeda própria, chamada LP, e não em dinheiro. Cada LP vale US$ 1, e é assim que os participantes conseguem pôr a mão em dinheiro de verdade: vendem seus LPs uns para os outros.
O esquema dá certo. Pelo menos até que a pirâmide caia, ou seja, que os pequenos pagamentos parem de ser feitos e os investidores fiquem a ver navios. Embora milhares de pessoas estejam se declarando felizes e "ricas" com o sistema, a suspeita é que o Mister Colibri faça parte de um esquema internacional de fraudadores e estelionatários investigado na Índia por golpes financeiros, e que também estaria atuando em outros países da América Latina.
A empresa está no Brasil há pouco mais de um ano, e há controvérsias sobre o número de associados. Segundo uma participante, nas palestras que divulgam o modelo de negócios, os organizadores falam em 30 mil. Mas o diretor comercial do Mister Colibri no Brasil, Gian Piero di Cillo, afirma em sua página no Facebook que são quase 120 mil associados.
De acordo com o material de divulgação da Mister Colibri, a empresa veio para "resolver o problema das grandes corporações". Multinacionais estariam dispostas a pagar enormes quantias de dinheiro em troca de um "público fiel" para suas propagandas. Esse dinheiro da publicidade seria o responsável pela "alta remuneração" dos associados.
Segundo uma das associadas ao site, as propagandas que eles têm de assistir são de empresas como Coca-Cola, Samsung, LG e BMW. Coca-Cola e BMW, que, porém, já negaram parceria com o site, segundo o jornal "El País", da Colômbia, em reportagem sobre o assunto.
A representação da Mister Colibri no Brasil é da Omnia Serviços Publicitários e Representações Ltda. Segundo a Receita Federal, a empresa funciona na avenida Dom Luís, 20, em Fortaleza, no Ceará. Já no site da Omnia, a empresa é descrita como fornecedora de equipamentos para tratamento de lixo urbano. O endereço de instalação é outro: avenida Historiador Raimundo Girão, 630, também em Fortaleza. Dos quatro telefones de contato divulgados, nenhum atende, e o e-mail informado é devolvido como inexistente.
Gian Piero di Cillo é citado no site como diretor de marketing da Omnia, mas a página que traria seu perfil não tem conteúdo, assim como o link que mostraria os serviços da empresa.
Di Cillo também aparece no material de divulgação da Mister Colibri como diretor comercial e braço direito do italiano Elia de Prisco, que seria responsável pelo site na América Latina. Prisco é apontado pelo jornal indiano "The Times of India" como um dos diretores da Seven Rings International, que está sendo investigada por crimes financeiros. A polícia indiana está levantando possíveis ligações entre a Seven Rings e os sites SpeakAsia e AdMatrix, que foram fechados por praticarem "pirâmide financeira", o que é crime. A reportagem de O TEMPO tentou falar com a Mister Colibri diversas vezes na última semana, por telefone, e-mail e pelo Facebook, mas não obteve resposta.
Riscos
Moeda virtual não tem lastro
A
dona de casa Ivonete Mendes, de Itatiba, interior de São Paulo, é
associada do Mister Colibri há quatro meses. Além dela, a irmã, a mãe e
dois sobrinhos também aderiram ao site. Ivonete investiu R$ 5.000 e
recebe cerca de R$ 1.300 por mês. Sua irmã já investiu R$ 15 mil e ganha
mais de R$ 2.000 por mês. "É uma empresa maravilhosa, só preciso
assistir a um minuto e meio de propaganda", comemora.
Para conseguir esse lucro, ela precisa vender seu dinheiro virtual, os LPs, a outros associados, geralmente os que são mais novos no esquema. "Quando preciso de dinheiro rápido, vendo cada LP por R$ 1,70, mas já cheguei a vender por R$ 2".
O problema é que quando houver mais vendedores que compradores, o LP vai se desvalorizar, até que os associados percebam que ele não tem valor nenhum. "É uma temeridade pessoas darem dinheiro para algo que não tem nenhuma regulamentação e nem garantia legal", diz o
professor de gestão empresarial da faculdade IBS/FGV, Pedro Leão Bispo.
"Captar dinheiro sem oferecer nenhum produto ou serviço é crime contra a economia popular", esclarece o advogado especialista em direito criminal Fernando Khaddour. "Não conheço a Mister Colibri e não posso falar sobre a empresa, mas cabem investigações do Ministério Público ou da Polícia Federal para que sejam esclarecidas as formas de operação da empresa". (PG)
Para conseguir esse lucro, ela precisa vender seu dinheiro virtual, os LPs, a outros associados, geralmente os que são mais novos no esquema. "Quando preciso de dinheiro rápido, vendo cada LP por R$ 1,70, mas já cheguei a vender por R$ 2".
O problema é que quando houver mais vendedores que compradores, o LP vai se desvalorizar, até que os associados percebam que ele não tem valor nenhum. "É uma temeridade pessoas darem dinheiro para algo que não tem nenhuma regulamentação e nem garantia legal", diz o
professor de gestão empresarial da faculdade IBS/FGV, Pedro Leão Bispo.
"Captar dinheiro sem oferecer nenhum produto ou serviço é crime contra a economia popular", esclarece o advogado especialista em direito criminal Fernando Khaddour. "Não conheço a Mister Colibri e não posso falar sobre a empresa, mas cabem investigações do Ministério Público ou da Polícia Federal para que sejam esclarecidas as formas de operação da empresa". (PG)
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