quarta-feira, 13 de junho de 2012

Gangues matam nas ruas por motivos fúteis

Em uma semana, foram 2 mortes e 3 tentativas de homicídios. Conflitos saem dos bairros e chegam ao Centro

 

Os confrontos entre gangues rivais resultaram, só nesta última semana, em dois assassinatos e três tentativas de homicídio, que deixaram três jovens feridos. Os casos de extrema violência, sendo quatro com uso de arma de fogo e um com faca, mostram que os grupos declararam guerra, levando medo à população. O acirramento das disputas, antes restritas a áreas mais vulneráveis, pulverizou os conflitos para todas as regiões da cidade. Ontem, no final da tarde, grupos divergentes dos bairros Jardim Gaúcho e Ipiranga, na Zona Sul, se enfrentaram em um ponto de ônibus na Avenida Rio Branco, entre as ruas Marechal Deodoro e Mister Moore, no Centro. Um adolescente de 17 anos, morador do Jardim Gaúcho, foi esfaqueado na região do peito, sendo encaminhado ao HPS. Durante o tumulto, uma senhora também foi ferida no braço e socorrida pelo Samu ao mesmo hospital. Já por volta das 18h de ontem, três jovens, com idades entre 18 e 20 anos, foram apreendidos pela PM na Rua São Sebastião. Eles teriam avistado um integrante de uma gangue rival dentro de um ônibus da linha Caeté e, com isso, desferiram socos no vidro lateral, que foi danificado. O rapaz de 20 anos que estava no ônibus portava uma faca. Todos foram levados para a delegacia. Um passageiro ficou levemente ferido. Até o fechamento desta edição, as duas ocorrências ainda estavam em andamento. Enquanto a violência entre jovens explode nas ruas, não há avanços para a implantação, em Juiz de Fora, do programa "Fica vivo" da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds). O projeto seria uma alternativa para tentar minimizar as ocorrências de homicídio no município.
Entre os jovens baleados, o último caso aconteceu na noite de segunda-feira, quando um garoto de 16 anos foi atingido na cabeça. Ele estava com dois amigos, de 17 e 18, na Rua Ricardo Ribeiro de Novaes, no Jóquei Clube, próximo à divisa com o Jardim Natal, na região Norte. Segundo a PM, o suspeito de atirar, 17, teria ligado momentos antes para um telefone público da via, dizendo que iria até o local e mataria um dos colegas da vítima. Posteriormente, um Celta preto chegou ao endereço com três ocupantes e, após uma manobra, o carona efetuou vários disparos em direção ao grupo. Uma equipe do Samu foi acionada e prestou os primeiros socorros ao garoto, que apresentava duas perfurações na cabeça. O adolescente foi levado para o HPS. Segundo a assessoria de comunicação da Secretaria de Saúde, ele permanecia internado em estado grave na sala de urgência. O projétil transfixou a região occipital molar da vítima, que ficou sedada, respirando com auxílio de aparelhos.
No mesmo dia, outro jovem, 19, já havia sido atingido por quatro tiros na divisa entre os bairros Jóquei Clube e Jardim Natal. Conforme a ocorrência da PM, a causa presumida da tentativa de homicídio também foi a ação de gangues. A vítima, atingida na nuca, nas mãos e na coxa, foi internada no HPS. Ontem, a unidade informou que ele estava lúcido, estável e respirava espontaneamente. O atirador teria fugido em um Gol após os disparos. Durante rastreamento, os policiais viram o carro estacionado em frente a uma residência no Bairro Amazônia. Na casa, foi apreendido um adolescente, 17, suspeito de ter atirado, e três rapazes, sendo dois de 19 e um de 21. Em um matagal ao lado, os militares encontraram um revólver calibre 38, com dois cartuchos deflagrados.
O grupo foi levado para prestar depoimento na 1ª Delegacia Regional de Polícia Civil e negou envolvimento no caso. Os três homens foram autuados por homicídio, qualificado por motivo fútil, e por corrupção de menores. Eles foram encaminhados ao Ceresp. Já o adolescente teve o flagrante confirmado por ato infracional análogo a homicídio qualificado e foi apresentado à Promotoria da Vara da Infância e Juventude para acautelamento no Centro Socioeducativo.
Assassinatos
No último dia 5, um jovem, 20, morreu depois de ser alvejado, pelo menos, cinco vezes, no São Judas Tadeu, na Zona Norte. O crime também teria sido motivado pela rixa entre gangues do Jóquei e do Jardim Natal. Cinco suspeitos foram presos. Três dias depois, um garoto, 14, foi assassinado a tiros no Santa Efigênia, Zona Sul. O homicídio teria relação com briga de grupos dos bairros Ipiranga e Jardim Gaúcho. A motivação foi apontada pelo próprio suspeito de atirar, um adolescente, 16, que foi apreendido. A PM também prendeu um rapaz, 20, que teria conduzido uma moto usada no crime.

Rivalidade que amedronta

Nos últimos meses, diversas ocorrências envolvendo atos de gangues foram registrados pela PM. Nos últimos dias, um confronto foi evitado na Praça Jarbas de Lery Santos, em São Mateus, quando rapazes, armados com paus, fugiram, pulando na frente dos carros da Avenida Itamar Franco. Em abril, uma lanchonete e uma residência foram apedrejadas durante briga entre bandos dos bairros Granjas Betânia e Parque Guarani, na Zona Nordeste. Até uma bomba de fabricação industrial foi apreendida pela PM no local. Em maio, em Humaitá, dois homens foram vítimas de rixas provocadas entre grupos diferentes. Um deles foi espancado por um bando com 15 pessoas e outro alvejado na cabeça, na nuca e no braço, após ser ameaçado de morte por uma gangue. Dias depois, um tiroteio ocorrido em um confronto de jovens, no Cidade do Sol, Zona Norte, provocou correria entre pessoas que estavam em um ponto de ônibus. A rivalidade também se fez presente dentro dos coletivos urbanos. Foram vários registros de atos de vandalismo, com brigas, apedrejamentos de veículos e passageiros feridos.
No Santa Efigênia, onde o adolescente Joel Marques da Costa Cândido foi morto na última sexta-feira, moradores afirmam que já não é possível ficar tranquilo no portão de suas residências. "Somos ameaçados, constantemente, por essa molecada. Eles até apedrejam nossas casas", disse um aposentado de 50 anos. A mãe do menino assassinado, Ana Cláudia Batista, 38, diz que outros integrantes da família estão ameaçados de morte. "Não aguento mais tanta violência. Só espero justiça, porque a vida do meu filho foi perdida", revolta-se a doméstica, 38, lembrando que hoje Joel iria completar seu 15º aniversário.

Violência cresce, mas 'Fica vivo' não é certeza

Na ocasião de sua visita a Juiz de Fora, para inauguração da Base Territorial da Polícia Militar, na Praça Jeremias Garcia, em Benfica, Zona Norte, no início de maio, o governador Antonio Anastasia falou sobre a possibilidade de instalação do programa do Governo estadual "Fica vivo", focado no controle de homicídios. Ele disse que era uma boa proposta para o município e que ponderaria sobre sua implantação com a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds). Entretanto, ontem, a assessoria de comunicação da pasta informou que, para este ano, estão previstas a inauguração de mais dois núcleos em Belo Horizonte e outro em Contagem. Para 2013, a Seds trabalha com a previsão de inauguração de mais três unidades. Todavia, os municípios contemplados ainda estão em estudo. Segundo a pasta, Juiz de Fora é uma das cidades em análise. Todas serão avaliadas quanto ao índice de homicídios e concentração de crimes em determinadas áreas.
Motivos fúteis
Para o professor do Departamento de Ciências Sociais e coordenador da pesquisa feita pelo Núcleo de Estudos sobre Violência e Políticas de Controle Social da UFJF, André Moysés Gaio, a resposta às ações dos grupos de jovens violentos deve vir do Poder Público, com a criação de programas de combate a este tipo de situação. "Esta questão tem que entrar na pautas das prefeituras. As rixas que vemos hoje têm origem na idade escolar, com a falta de mediação de conflitos, gerando violência. Não há um programa que trate desta questão." Ainda segundo o especialista, os confrontos existentes em Juiz de Fora não podem ser explicados pelo conceito de gangue, que é aplicado nos Estados Unidos, onde o termo tem origem. "Lá, a disputa se dá em função de questões de etnia, hierarquia e controle territorial, o que é bem diferente do que acontece aqui, onde a rivalidade está ligada a motivos fúteis, como ciúmes e machismo", ressalta o professor, acrescentando que as desavenças são agravadas pelo uso de arma de fogo. "A PM realiza operações para apreensão, mas, por falta de efetivo, existem falhas no combate. Além do mais, é preciso saber a origem dessas armas. Como elas vão parar na mão desses meninos? É esta a pergunta que necessita ser respondida pelas autoridades responsáveis." A assessoria de comunicação da Polícia Militar foi procurada para comentar o assunto, mas, até o fim desta edição, não houve resposta.

FONTE: TRIBUNA

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